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26/01/2021 às 11h14min - Atualizada em 26/01/2021 às 11h14min

Artigo: “Feliz ano novo. De novo!”, por Andrey Cavalcante

Andrey Cavalcante. Advogado. Membro Honorário Vitalício da OAB/RO. Conselheiro Federal da OABRO

Ainda que com o coração dilacerado pela irreparável perda de minha querida avó, Maria Inácia da Silva, cumpro aqui o dever de manifestar irrestrita solidariedade a tantas famílias que perderam e lamentavelmente continuam a perder entes queridos e amigos nessa pandemia insidiosa, nefasta e trágica. Minha avó Inácia resistiu, aos 92 anos, com a força de guerreira amazônida – verdadeira Amurian – na luta contra o Covid-19. Conseguiu vencer, e recebeu alta em julho do ano passado, depois de 21 dias na UTI. Mas seu organismo, fragilizado, não resistiu. Não sem incorporar a seu legado mais um exemplo de coragem e tenacidade, a demonstrar que é preciso acreditar na vida. E lutar por ela.

Aquilo que minha avó sempre ensinou – e praticou por toda a sua vida, virtudes que lhe facilitaram o caminho do sucesso como empresária do comércio – é hoje a principal ferramenta no combate ao vírus, enquanto não chega a vacina para todos. Atitude, empatia, compaixão e solidariedade não são mais apenas meritórios qualificativos para engrandecimento do caráter individual do ser humano. São, na verdade, os mais eficazes mecanismos para a superação do mal, que nos obriga a defender a saúde das pessoas de nosso convívio para garantia de nossa própria proteção. A ciência ainda não encontrou alternativa medicamentosa para o combate à pandemia, segundo a Anvisa. Não há nem mesmo garantia científica de imunidade em nova contaminação para quem já contraiu a doença. A verdade é que você somente estará em segurança se o seu vizinho também estiver.

A expectativa geral é que as vacinas provavelmente tenham algum efeito na transmissão, mas por hora ninguém sabe o quanto. Diferentes níveis de proteção contra a transmissão podem fazer uma grande diferença na eficácia do combate à pandemia. E se a vacina pode proteger da doença, mas não necessariamente do vírus, mesmo depois que houver a vacinação, ainda será necessário continuar com algumas medidas de segurança — como o uso de máscara, por exemplo — até que a pandemia esteja sob controle. É que mesmo que você esteja vacinado, pode transmitir o vírus para quem ainda não a tomou. Ou seja: continua valendo a eficácia do uso de máscaras, distanciamento e higienização correta e frequente das mãos.

Com esse quadro, quais seriam as perspectivas para este ano, que começa com tamanha dramaticidade? Eu diria que não deixam de ser alentadoras, considerada a perspectiva de produção nacional vacinas em volume suficiente para atender a toda a população. É a tal imunização de rebanho. Ainda que tenhamos começado tarde, será possível dar um exemplo ao mundo e chegar à frente, consideradas a experiência em campanhas de vacinação e a capilaridade do SUS. Mas é preciso que cada um faça a sua parte nessa caminhada que se aproxima da imunização de todos. É preciso atacar uma crise de cada vez: primeiro a crise sanitária, em seguida a recuperação da economia e, por fim, a política. Palavras reproduzidas inclusive pelo ministro Paulo Guedes.

É muito difícil fazer previsões de longo prazo, já que a tendência é prever aquilo que queremos que aconteça, não o que os fatos possam indicar. Mas o rondoniense é historicamente vocacionado para o enfrentamento de dificuldades. Coragem e capacidade de trabalho não faltam por aqui. Nosso espírito pioneirista haverá de facilitar a necessária e rápida adaptação à nova realidade, ao “novo normal” que uma visão otimista nos permite vislumbrar ainda para este primeiro semestre de 2021.

Já escrevi – e considero oportuno reproduzir no momento em que se anuncia um novo começo de ano e de muito maior valorização da vida – que “Para você, desejo o sonho realizado. O amor esperado. A esperança renovada. Para você, desejo todas as cores desta vida. Todas as alegrias que puder sorrir. Todas as músicas que puder emocionar. Desejo que os amigos sejam mais cúmplices, que sua família esteja mais unida, que sua vida seja mais bem vivida. Gostaria de lhe desejar tantas coisas, mas nada seria suficiente… Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto, ao rumo da sua felicidade”.

Com a assinatura de nosso poeta maior, Carlos Drumond de Andrade, a mensagem sintetiza o que verdadeiramente mobiliza a sociedade brasileira. E passa muito longe de divisões eleitoreiras entre “nós” e “eles”, impostas escancaradamente sob o disfarce de “ideologia”. Os estudiosos do comportamento humano estão diante de uma nova oportunidade para analisar a atitude do brasileiro em geral, muito mais otimista do que os doutores do saber – e do poder – borboleteiam. E muito mais confiante em relação às perspectivas e expectativas para o Brasil nesse novo ano que precisa começar de novo, com mais atitude, mais ação, mais poesia, mais desejos realizados. E menos gritaria!


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